O Parque Nacional Serra da Capivara, no sul do Piauí, foi destaque na revista Casa e Jardim por reunir preservação ambiental, arquitetura integrada à paisagem e um dos mais importantes acervos arqueológicos das Américas. Reconhecido mundialmente, o Parque é exemplo de como conservação, ciência e desenvolvimento sustentável podem caminhar juntos.
Inserido no bioma da caatinga, o complexo abriga uma paisagem marcada por formações rochosas, cânions e vegetação adaptada ao clima semiárido, que define a identidade ecológica e cultural da região. Criado em 5 de junho de 1979, o Parque Nacional Serra da Capivara é Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1991, título concedido pela Unesco, e integra, desde 1993, o Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Para o secretário de Estado do Turismo do Piauí, Daniel Oliveira, o reconhecimento reforça a relevância do destino no cenário nacional e internacional.
“A Serra da Capivara é um patrimônio único, que une história, natureza e identidade cultural. Esse destaque em uma revista de circulação nacional como a Casa e Jardim valoriza o trabalho de preservação e amplia a visibilidade do Piauí como destino de turismo sustentável e cultural”, afirmou o gestor.
Paisagem moldada pela caatinga
A vegetação típica da caatinga, composta por espécies como jurema-preta, umbuzeiro, barbatimão, angico, carnaúba, mandacaru, juazeiro, aroeira e xique-xique, influencia diretamente a biodiversidade e o visual do Parque. O clima semiárido, com altas temperaturas e longos períodos de estiagem, impõe estratégias de adaptação que moldam a flora e a fauna locais.
Segundo a professora Loyde Abreu, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, as plantas xerófitas apresentam folhas pequenas ou caducas e adaptações estruturais que reduzem a absorção da radiação solar, além de mecanismos metabólicos que aumentam a resistência ao estresse hídrico.
A fauna acompanha essa diversidade, com a presença de tatus, tamanduás, jaguatiricas, cotias, morcegos, porcos-do-mato, macacos-prego e onças.
Arquitetura a serviço da preservação
A geologia da Serra da Capivara, formada por cavernas, cânions e paredões rochosos esculpidos pela erosão, favoreceu a preservação de registros rupestres que ajudam a recontar a história da ocupação humana nas Américas. As estruturas arquitetônicas implantadas no Parque atuam como suporte à conservação e à pesquisa científica.
Projetadas para interferir o mínimo possível na paisagem, as edificações respeitam a topografia, a vegetação nativa e as condições climáticas, priorizando ventilação natural, sombreamento e redução de áreas impermeáveis. Museus, áreas de interpretação e equipamentos de apoio ampliam o acesso à informação e fortalecem a educação patrimonial e ambiental.
Patrimônio, comunidade e desenvolvimento
O Parque abriga mais de mil sítios arqueológicos cadastrados, a maior concentração das Américas, e está entre os dez parques nacionais responsáveis pela proteção da caatinga. No entorno, uma Área de Preservação Permanente com raio de dez quilômetros contribui para a proteção física, histórica e cultural da região.
A arqueóloga Niède Guidon (1933–2025) teve papel decisivo na criação do Parque e na projeção internacional de suas descobertas. Além de fundar o Museu do Homem Americano, idealizou iniciativas como o Projeto Cerâmica da Serra da Capivara, que valoriza saberes tradicionais e gera renda para comunidades locais.
Sustentabilidade e desafios
Apesar do reconhecimento internacional, a preservação do Parque enfrenta desafios como a forte incidência solar, a amplitude térmica e a dificuldade de acesso a recursos financeiros. A distância de mais de 570 quilômetros da capital Teresina também impacta a logística de manutenção e operação.
Ainda assim, o Parque Nacional Serra da Capivara segue como referência em ecoturismo e conservação, fortalecendo a economia local e preservando um capítulo fundamental da história da humanidade.